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Elo passional a cinco

autor: ANTONIO GUEDES ALCOFORADO

           Sou Marina, empresária e esposa chifrada. Não consigo conviver com traições de Hugo, meu marido. Sinto raiva, ódio. Confrontado, ele nega. Só me resta acabar com a vida da vagabunda. Com conhecimento e ajuda de meu irmão gêmeo Rico, contratei o pistoleiro Izinho para dar fim ao caso. Armei uma cilada dentro do estacionamento de um hipermercado. Isadora, a amante, está estacionando alegremente acreditando estar ali para encontrar-se com Hugo. Sou apaixonada por meu marido e não permito dividir seu amor com ninguém. Se for crime, o faço por amor ou talvez por loucura. De longe dou sinal a Izinho, que já sabe o que vai ser feito. Encomendei e paguei pelo serviço. Ele sabe que se for pego não deve falar meu nome, é risco de morte.

 

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           Sou assassino profissional, Izinho a seu dispor. Aproveitei para sentar-me no banco do passageiro, com arma em punho, no momento em que Isadora destravou a porta do carro para descer. Ela, assustadíssima, sem saber ao certo o que há, vai fazendo o que eu digo. Mando dirigir como se nada estivesse acontecendo, sem medo. Depois, sair da cidade e seguir no rumo norte. Fiquei extasiado pela beleza da jovem. Como pode uma moça tão linda se tornar amante de um homem casado? Não há futuro nesse tipo de relação. Só uma pessoa insana se permite uma relação a três, é muito risco. Fui contratado para dar cabo à vida dela, sou profissional, farei sem pestanejar. Viajamos por trezentos quilômetros. Tentei fazer sexo com ela algumas vezes. Não sou estuprador. Após última recusa, paramos numa estrada de terra, deserta. Disparei um único tiro em sua nuca.  Abandonei o corpo e segui viagem.

 

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           Mais uma vez, sou eu Marina. Quando vi na imprensa que Isadora estava morta, não me senti aliviada como gostaria.  Sentimento de fracasso. Que maldade! Só agora me coloco no lugar de seus pais. Deixei-me levar pelo sentimento doentio de perseguição, desespero, ciúme, loucura. Gostaria de não me sentir assim. Infortúnio. Sem planos, procuro o isolamento e um revólver. Sinto frio num calor sufocante. Pretendo acabar comigo, não quero mais viver. Meus pensamentos fazem eco em minha cabeça desatinada, só quero me livrar dessa aflição. A imagem do corpo estirado de Isadora morta não me sai da cabeça. Aos prantos, afago o revólver sem coragem para um tiro fatal. Não consigo olhar-me no espelho. E agora o que vou fazer? Saio de casa acompanhada pelos pensamentos simultâneos. Não estou nada sã. Abandono o carro e sozinha, caminho durante horas. Estou às margens do rio, retiro as sandálias, entro na água. Nunca aprendi a nadar. Deixo-me levar pela correnteza.

 

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            Sou Rico, irmão gêmeo de Marina e cunhado de Hugo. Tudo que aconteceu foi culpa dele. Ele vai pagar. Nunca gostei daquele desgraçado. Casou com minha irmã apenas por interesse. Mercenário. É fato que os negócios da família cresceram na administração dele. Mas Marina acabar assim? Não pode ser. Quero vingança. Esse ódio me consome. Assim como a Izinho contratei também os bandidos que matarão Hugo. Assim vingo e ainda assumo a presidência do conglomerado.

 

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           Sou o jornalista freelancer Léo, vou atrás de notícias com a finalidade de ganhar primeira página em jornais, sites e televisões. Hoje sugeri a meus editores a seguinte manchete: . Mantenho total sigilo de minhas fontes. Não me detive apenas a um dos crimes. Os editores recusaram, preferiram noticiar isoladamente cada caso. Para eles não há conexão. O conglomerado de empresas antes presidido por Hugo é contratante de todos os noticiários. Corrupção camuflada de negócios. A família de Isadora não aceita a possibilidade de seu namoro com homem casado, rica e tradicional paga para ter o caso como sequestro e latrocínio. Melhor para o delegado, embolsa um bom valor. O pistoleiro Izinho foi preso em um hospital psiquiátrico, louco com atestado médico. Para a lei é isento de pena. Marina, depressiva cometera suicídio por afogamento após ver, a seu mando, a morte de Isadora. Rico quer o fim do inquérito policial para não ser envolvido. As câmeras de segurança mostram dois homens encapuzados realizando o assalto à mão armada e o assassinato após reação da vítima, Hugo. Roubo seguido de morte. Nenhum ladrão foi identificado ou preso. Sem suspeitos, o caso é encerrado.

 

FIM

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